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praça da liberdade

conversas soltas na praça

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Joacine é um flop

marta
30
Jan20

Joacine é um flop.

Com todo o respeito democrático pelos milhares de portugueses que a sentaram no Parlamento português, Joacine é um flop. Começa logo pela postura egocêntrica que demonstrou desde o primeiro dia, uma linguagem corporal claríssima de deslumbramento e esquecimento de que o lugar onde está sentada não é seu mas de todos os que votaram em si, e foram muitos – o lugar dos eleitos é do povo, e é uma cadeira que deve ser honrada e não usurpada. Também um certo pico a vedeta deixava antever largamente que Joacine, a deputada escoltada dentro da perigosíssima Assembleia da República, chegara para arrasar, só que da pior das formas, brilhando um brilho baço de deslumbramento, pouca prudência e nenhuns caldos de galinha.

Depois, e jamais menosprezando Joacine pelo seu handicap, nunca me pareceu que aquela peça encaixasse num puzzle onde a oratória é o ponto alto da festa – ver a deputada discursar é penoso e incomoda, e fui acometida mais do que uma vez de uma vontade heroica de a salvar do tormento.

A anos-luz de gastar um minuto a olhar para a cor da sua pele ou a pesquisar a sua origem, que não me importam absolutamente para nada porque defenderei eternamente que somos todos seres humanos independentemente da latitude onde calhou nascermos, Joacine não me deixou esquecer um minuto sequer destes factos, numa atitude tão auto-discriminatória e autofágica que a nós nos matou primeiro de espanto e depois de tédio, e a ela a condenou a um lugar pequenino na história de uma democracia que a quis mas que ela não soube querer. 

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Escolheu tirar em vez de dar. É pena.

marta
23
Jan20

O que choca não é a Isabel dos Santos ser rica, vivo bem com a riqueza dos outros, que aproveitem e sejam felizes. O que choca, muito, é perceber que Isabel dos Santos enriqueceu, aparentemente já sem margem para grandes dúvidas, ilicitamente e, pior, muito pior, comodamente sentada em cima de um povo paupérrimo, sem que a consciência lhe pesasse um grama sequer. Alguém escreveu um dia que Angola é um país rico com um povo pobre – são inúmeras as carências de uma população abundante de desempregados, sem-abrigo, analfabetos, desmobilizados das forças armadas e deslocados de guerra, crianças de rua, gente a viver no mais horrível limiar da condição humana, a pobreza extrema. O país da milionária Isabel dos Santos, onde as garrafas de Moet et Chandon se vendem como pães quentes, é também o país da mortalidade infantil assustadora - em cada mil crianças nascidas, sessenta e quatro morrem (Jornal de Angola, 15 de junho, 2019), o país onde as assimetrias e desigualdades são das mais acentuadas do mundo e “distribuição de riqueza” não passam de duas palavras desconhecidas.

A riqueza não me choca, sei bem que vivemos num mundo real onde não temos todos nem as mesmas oportunidades, nem a mesma vontade, nem a mesma garra, nem a mesma sorte. O que me incomoda mesmo a sério é a insuportável leveza com que gente de poder olha arrogantemente para o outro sem o ver. E em Isabel dos Santos impressiona a dimensão não só da teia de corrupção mas também dessa arrogante indiferença. Isabel dos Santos não governou Angola, mas o seu pai sim, e isso ter-lhe-á aberto tantas portas quantas quis, para ser rica mas também para ter sido se quisesse, nem que fosse só um pouco, uma humanista. Infelizmente foi coisa que não lhe ocorreu. Escolheu tirar em vez de dar. É pena.

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A Saudade engole a gente, menina

marta
16
Jan20

Passeio de manhã na praça e tenho saudades, vejo-me há tantos anos atrás, há mais de vinte, quando aqui cheguei e timidamente pisava este chão sem saber ainda que aqui criaria raízes para sempre. Era verão ainda quando aqui me instalei, não era nada do que sou hoje mas já era tanto, uma soma de coisas conquistadas a pulso como são todas as coisas da minha vida, não tive almoços de graça e nem quero ter, não saberia o que fazer com eles. Passeio na praça e tenho saudades das noites quentes de junho a comer sardinhas à porta do banco à espera dos foguetes que nos caiam em cima se não fugíssemos para debaixo da pala da rulote da massa frita, olha aproveitava e comia uma fartura, as melhores de todas do mundo todo. Também me fazem falta amigos de verdade que aqui fiz e que partiram apressados para o céu, a minha esperança é que dê eu as voltas que der não hão-de deixar-me perdida sem o abraço das suas asas de anjos. Tenho saudades mas qualquer dia acabo com isto, que é para ver se fica mais fácil viver os dias em que, impiedosas, me dão ferradas no coração. Qualquer dia acabo com isto das saudades, ponho-as a fazer ruas onde as pessoas vão passar e sentir uma coisa estranha, mas não vão saber o que é porque calçadas de emoções só existem na minha cabeça.

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É nas pessoas que reside a esperança dos lugares

marta
09
Jan20

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Entre o medo e a esperança, abro as conversas na praça com o futuro na cabeça, futuro centrado nas pessoas, que é para elas e com elas que trabalho diariamente, ouço-lhes as angústias, sei que é aí que reside a esperança dos lugares, são elas que transformam e são elas que mais contam. Sei que o que traz futuro às aldeias, vilas e cidades é quem lá vive e que se forem embora ficamos com as ruas desertas, os cafés vazios, as lojas fechadas e os lugares tristes e sem vida, sem risos de crianças nem alegria de jovens, ficamos só os grandes e os velhos, que amamos muito mas não chega para ter horizontes largos. Ficamos sem gente, fogem todos para as cidades grandes e para que servirão depois as lindas casas caiadas de branco se não houver ninguém para lá viver. As pessoas são o bem maior de qualquer lugar e nós, esquecidos durante tantos anos, relegados para um estatuto de terra pobre e de pobres, não somos exceção. Precisamos de vinhas, de turismo, de monumentos, boa comida e vilas cuidadas, mas precisamos essencialmente de gente. Sem as pessoas a terra morre, o vinho não se bebe e não haverá ninguém que receba os visitantes. E esta terra alentejana de bom chão merece muito mais do que isso. E nós também.